mais uma canção

quinta-feira, 8 de setembro de 2011 às 00:05
ah meu amor, te digo com toda a minha verdade: não há nada mais bonito no mundo do que me lembrar de você. e lhe digo mais: não há coisa no mundo que não me faça lembrar! e nessa madrugada de ventos ruidosos, chá quente e muito escuro, eu me recordo de você com tanta doçura que me estranho! de onde vem tanto zelo seu? sinto-me tão acolhida nos seus braços grandes. sinto-me princesa quando você fala baixinho coisas de amor e beleza. de onde você tira tantas palavras desmesuradas? quero saber de que submundo você tira tanta calma pra me entender e me corrigir. não sei, mas é bonito. quero seus olhinhos apertados, sua fumaça de cigarro e muitos, mas muitos beijos. porque, amor, não há no mundo coisa que tenho mais certeza senão de que é seu todo meu amor.

o dia de hoje

sábado, 20 de agosto de 2011 às 22:44
Eu não sei o que te dizer. Nasce essa vontade não sei de onde de transbordar palavras de que não tenho. Me sinto travada. Ao mesmo tempo vejo que não adianta procurar zelosamente por explicações, pois você não está disposta a escutá-las. Seus cinquenta e um anos são sólidos demais para que eu me faça ouvir. Não há razão que mude de lado. A bem da verdade, estou muito errada nessa história toda. E, confesso com rubor, não admito minhas transgressões, explico-as. Queria bem que você pudesse me ouvir um pouco mais. Queria bem me portar com um pouco mais de calma nesse afago grosso do mundo. Não sei se por respeito ou por receio, deixo o tempo passar e levar nosso silêncio. Mesmo que a angústia fique. E que me remoa toda.

um pouco menos

quarta-feira, 6 de julho de 2011 às 02:27
esse borrão que se espalha é um novo fracasso. não, nem terminou, mas sente só, o cheirinho do fracasso circundando as esquinas! alguma coisa nesse caminho obscuro confirma o avesso de todas as esperanças. ainda há essa maldição obrigatória, as pessoas, falando e falando e fazendo sons indefiníveis em tons de deboche e descrença. algumas dão as mãos, mas os pensamentos são claros, tão claros, que melhor andar sozinha mesmo. eu vejo alguns relâmpagos que guiam, mas na maior parte das vezes o desenho é outro: está perdido. me escoro, mas o fracasso não possui abas e foi feito justamente para gozar da sua queda. o legal disso tudo é fazer-se fracassado e viver disto. assumir-se sem redimir-se. pronto, é isso aí. um café e um cigarro já completa o quadro e o faz ficar um pouco menos deplorável. faz fracasso ser fumaça. que apesar de cheirar mal, deixa a cena mais bonita.



"Everett Ruess era estranho. Meio diferente. Mas ele e McCandless pelo menos tentaram seguir seus sonhos. Isso é que faz a grandeza deles. Eles tentaram. Pouca gente faz isso." [ Jon Krakauer ]

bem-agradecida

domingo, 10 de abril de 2011 às 23:35
e por te ver ali, arquétipo da perfeição, que me senti, não pela primeira vez, mas unicamente amada. aquele teu estar tão quieto e sereno, como quem espera sua hora de se permitir. aquele seu jeito carinhoso de me puxar. sem pedir. você poderia clamar por fuga, reclamar teu silêncio. mas não, com tua mansidão de ator, esperou-me. e por te ver ali, arquétipo do desmedido, que me senti livre. vi tuas mãos segredando meus terrenos. risos de lascívia me passando códigos. teus gestos me deixando rubra e, ao mesmo tempo, me deixando tua. é faz-de-conta, minhas repressões. e por te ver ali, arquétipo do tolerante, ouvindo-me e podando minhas queixas, que me faço sortuda. é nesse teu entregar agudo, gostoso e particular, que peço que venha, não saia, que por aqui se deite. e por te ver ali, arquétipo do apaixonado, que não precisa de nada para se fazer ser e representar, que te amo. e peço salvas ao teu amor. e peço por manhas teu calor imanente. e peço, mesmo que por fim, você me baste.


"O amor que ainda não se definiu é como uma melodia do desenho incerto. Deixa o coração a um tempo alegre e perturbado e tem o encanto fugidio e misterioso de uma música ao longe" [ Érico Veríssimo ]

sem mais.

segunda-feira, 14 de março de 2011 às 22:30
Peço desculpas, senhores. Pelo estado ébrio. Pelas palavras erradas. E, principalmente, pelo lamento. Mas não posso deixar de fazê-lo. É preciso. Como um cocô. Como uma puxada naquela cutícula protuberante que você sabe - todos sabemos - vai sangrar. Preciso manifestar minha tristeza de me sentir incômodo. Porque quando uma pessoa te critica. Você pensa. Pondera. Refuta. Ou não. Aceita. Pensa em mudar. Tenta mudar. Viu que não consegue. E esquece. Mas quando duas, três, cinco pessoas te criticam. Aí sim. Tem outro nome: é incômodo. Assim como me sinto agora. Um incômodo. A ele que tanto me ama. A ela que tanto devotei. A outra que sempre abracei. E a muitos, que com certeza não sei, mas que já que me desejaram longe.

É só, como disse, um pequeno lamento. De um dia triste e chuvoso. Nada demais. Já me vou.

luz aqui, por favor

quinta-feira, 10 de março de 2011 às 22:51
Alguma coisa - que não sei o que é - me fez pensar em todos esses rastros que são feitos justamente para serem despercebidos. Rastros estes comumente chamados de defeitos, mas que eu cinicamente chamo de tropeços. Engraçado como a gente tomba, se machuca, mas não percebe a quase-queda, só quem percebe são os outros. São os outros que veem como você foi mesquinho, como você conjuga errado determinado verbo, como você ri engasgando, como você senta corcunda ou como você fala demais na vida dos outros. Essas coisas que a gente faz sem perceber e que faz parte das nossas entranhas. Mas os outros - esse demônio da vida social - é quem nos aponta nossos deslizes deveras humano. E pior: nunca vemos o dedo em riste! Eles, em seu cetro julgador, destrincham nossa personalidade - não sem razão - e sequer nem desconfiamos. Julgamo-nos tão pouco defeituosos! E os que percebem sua qualidade errante, mal sabem como se definir. O que somos de ruim? E me pego pensando - talvez com demasiada frequência - nesses meus tropeços eufemísticos. E, por consequência, me pergunto, consigo mudar? Faz parte da minha limitação humana continuar assim tão falha ou consigo me esquivar de certos caminhos cegos?


O inferno não são os outros. O inferno são os outros e sou eu.

se refletir fosse viver...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011 às 22:13
desconheço este quarto. como foi que aos 15 anos eu escolhi por essa cor nas paredes? lembro-me que queria roxo bem escuro e minha mãe disse que quarto não podia ser cor escura, tinha que ser algo bem clarinho. fazia bem aos olhos, dizia, e além do mais, eu era menina. e saiu agora essa cor que não é roxo, nem azul, algo sem definição. desconheço igualmente essas fotografias. um pôster de rock nacional, umas fotos do che guevara, uma tabela periódica dos tempos de pré-vestibulanda - deus-me-livre-e-guarde! - e... ahh, meus desenhos! olham eles! como são tortos, mas são engraçadinhos e eu sempre soube combinar bem as cores. deve ser pra compensar minha falta de jeito com os traços. tem um mural que era supostamente pra ter fotos minhas da juventude, mas sempre que abro a janela, as fotos voam por debaixo da cama e a preguiça de pegá-las faz com que ele se resuma ao um quadro somente. ademais, nunca fui fotogênica então não me importo em escolher fotos de gente que sorri comigo e que já foi embora. desconheço esse casulo que vivi por 7 anos, embora os 3 últimos tenham me servido de refúgio da cidade que - por vezes - me engole. essa cama já guardou tantas lágrimas! vejo agora como fui inocente de ter me derretido por coisas tão bobas que por agora não fazem mais sentido. aliás, tudo do passado parece não ter mais sentido algum quando estamos no presente maduro. coisas da vida. desconheço a pessoa que fui diversas vezes e que nesse quarto se transformou. quantos eus ele abrigou? só sei que, apesar de não me reconhecer nessas paredes afetuosas, como o colo (pa)(ma)terno, é aqui que mais uma vez - e ainda muitas outras vezes - que ancoro para repousar e recomeçar. me descubro sempre por aqui pra, depois - invariavelmente -, me perder do outro lado, quando volto aonde realmente pertenço. ou acho que pertenço.



"A sede de ser completo deixou-me neste estado de mágoa inútil." [ Fernando Pessoa ]

entre espaços

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011 às 23:15
Que coisa tola chorar de saudade! E você nem partiu. Continua por perto. São só alguns pouco dias de descanso. Mas até o descanso se torna conturbado com você tão longe assim de mim. Sinto falto de você sussurrando "vem, chega mais perto" no meu ouvido e me puxando sempre com muito carinho. Teu carinho me assombra. Sinto sua falta como que se tivesse esquecido por aí uma parte essencial de mim. Deixei com você meu fígado. E por isso é tão doído quando liga. Sua preocupação é o que você tem de mais bonito! Mas sua voz, seca e direta - esse seu jeito de falar pouco no telefone que já aprendi e gosto - me deixa sem equilíbrio. E choro. Choro porque sou tola e choro porque sou toda saudade. Mas paro logo. E sorrio. Sorrio porque te amo. E já já volto.


"Costuma-se dizer que a solidão é enriquecedora, mas isso depende diretamente da possibilidade de se deixar de estar sozinho." [ José Saramago ]

caixa de mensagens

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011 às 01:20
tenho cinquenta motivos pra te odiar. suas ideias, suas falhas, suas mentiras, a maneira como você ignora (a mim, as pessoas e o mundo). mas te amo. e, veja que coisa, não tenho nenhum motivo para isso. minto! tenho muitos. só que não são lá propriamente motivos. não são palpáveis, nem ao menos sei distingui-los. são todos uma coisa só amalgamada que no final se resume no amor. entenda: não sei porque te amo. não vejo absolutamente nada em você que me provoque a revelia do amor desmedido. se me perguntarem, titubearei. mas amo! em todos os lugares, em todos os momentos eu me pego pensando em você com demasiado amor que me espanto. espanto! mas minha busca por motivos não tem fim. procuro nas suas palavras açucaradas o tanto do amor, procuro nas dobras dos nossos lençóis cheios de prazer transbordante, procuro nos vãos dos nossos dedos que não se desgrudam em nenhuma caminhada, procuro no seu alô despreocupado de alguma manhã que te custou o acordar. e procuro porque me foge à razão essa subversão que é não te odiar por um só instante enquanto tudo que vejo é suas imperfeições. mentira! o que vejo é seu quinhão humano que me encanta tanto e tanto, que vira amor. amo suas ideias antigas, amo suas falhas despercebidas, amo suas mentiras infantis, te amo até no seu desprezar. porque não preciso de por quês pra te amar. só te amo. mesmo que seja na contramão.



"Divago, quando o que quero é só dizer te amo." [ Adelia Prado ]

nada

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011 às 22:14
não tenho mais palavras tristes. nem angústias dispostas em palavras para chatear meus infiéis leitores. bem que queria algumas lágrimas de desapego para enfeitar, quem sabe, meus lampejos de romance. acontece, que por causa de você, o que tenho é um contentamento sólido e belo que mal consigo esconder. não há nada que você não me cause. e digo mais: não há nada que você não me cause que não seja belo. pois é belo demais esse seu bem-querer travestido de coisa alguma, é bem-querer gratuito e terno. e possui toda beleza esse seu cuidar descuidado e seu preocupar de amante leviano. não vou me esquivar com palavras leves pra dizer que te amo, porque não preciso. eu te amo e você bem sabe. embora, eu sei eu sei, me esconda em cortinas vermelhas. mas amor também é se desnudar e é pra isso que a gente anda de mãos dadas, para desmascarar medos. os meus e o seus.

e já que falar de amor é tão clichê, fujo. mas te amo muito. e me calo só porque todo o resto somos nós.

são as palavras que me empurram

terça-feira, 18 de janeiro de 2011 às 12:03
Uma ligação me desestabiliza. Estava eu, serena e lúcida, lendo Althusser, sublinhando frases de efeito e dignas de serem ressaltadas, quando me chega um ruído. O celular. O vibrar de alguém que do outro lado dos pontos cardeais lembrou-se de mim. Antes não tivesse. Uma ligação seca. Fria. Áspera. Ocre. Não sei quantos mais adjetivos posso usar, mas serão sinônimos inúteis. Um oi, tudo bem, eu vou bem, lembra-daquele-livro..., não, não lembro, ah, vou-procurar-na-internet, então, beijo, tchau. Assim. Sem mais. Sem uma preocupação saliente. Uma inquietação próxima de algo bonito chamado saudade. Uma demonstração pequena que fosse de amor ou de afeto. Não sei se é o telefone que te muda, mas você mudou. Tá seco, frio, áspero, ocre ou o que seja! Diferente. E me dói um pouco aqui, não sei bem aonde, se na cabeça ou no coração, ou se em um pouquinho dos dois, ver você assim diferente. Ou o que queria dizer era distante? Pode ser que na volta você volte com acalantos e amores proclamados, mas o pode ser inquieta-me por demais e, posso contar?, to velha demais pra tamanhas inquietações. Tô sim. Não dou mais pra essas incertezas juvenis. E, na verdade, me condeno por todas essas elucubrações se esse é você, se é outro, ou se é você querendo ser outro e não me querendo mais. Seja lá quem for, seja lá como for, eu guardo pra mim esse medo que dói – umas pontadas, sabe? – e não deixo você saber de como você atrapalha meu dia com seu ar frio. Deixo umas indiretas aqui e ali, mas quando você pergunta, desconverso porque sou sim feita de pensamentos. E bem que eu poderia continuar minha vida ociosa de férias de janeiro, lendo, sublinhando, vendo documentários de esquerda, se não fosse suas ligações que não dizem nada. Pelo menos você ainda liga. Ainda lembra. Embora nada diga de muito importante. Agora não dá mais pra voltar pro livro, mal consigo ver e me concentrar no que quer que apareça. Essa pessoa que me desconcerta e me tira o casaco. Não me ligue mais.


"...de que serve sonhar um momento, se a realidade da vida é ruim. Existem forças muito fortes, separando você de mim..." [ William Shakespeare ]

livro de reclamações

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011 às 11:50
Disse-lhe, aos gritos, senão aos berros que "eu não preciso que ninguém cuide de mim!". Esqueci-me de acrescentar que, embora não precisasse, não significava que não queria. Era isso tudo o que queria dizer: não preciso, mas quero. Não disse. Havia alguma fúria nova que não me deixava pensar e por consequência não me deixava dizer. Esse silêncio travado que nos causa briga. Eu sei, eu sei.

Revolto-me com tamanho descaso de um lado. E as cobranças, então? Por que surgem? Se vez ou outra estou eu ali cuidando dos ébrios queridos, da avó partida, de mim mesma cheia de dúvidas mundanas... Por que me cobram tanto zelo se pouco recebo? É egoísmo demais meu me questionar essa dinâmica no terreno do bem-cuidar? E amor não é um pouco disso, de reciprocidade?

Não preciso que cuidem de mim. Meus pais nunca abriram a porta do meu quarto ou nunca questionaram o inchaço dos olhos. Passei quatro anos na ilusão de estar sendo zelada por alguém que de tão longe e desprezível me fez enganar! Aprendi a procurar - sempre - uma mão a segurar, mas aprendi - mais - a não achar nenhuma e seguir em frente.

Meu livro de reclamações está cheio, mas as angústias ficam menores e bobas quando proclamadas. Lendo agora me acho criança e tola, mas alívio é sempre a minha busca. Vou me isolar um pouco. Quem sabe encontro um alento a mais?


"A felicidade é apenas uma invenção para tornar a vida mais suportável." [ José Saramago ]

presente de janeiro

sábado, 8 de janeiro de 2011 às 19:27
éramos só os dois ali, na grama de Botafogo. no vão entre os carros. embora vez ou outra passassem pessoas, apontando, rindo e nos chamando de bêbados, éramos só nós. bêbados de amor e - por que não? - de cerveja. bêbados e felizes. e ríamos de tudo porque o mundo inteiro tinha graça. e o mundo inteiro acontecia e a gente ali, deitados e parados conforme nosso próprio ritmo. e podia tudo degringolar, a gente não ligava. tava gostoso ficar ali abraçada com você que a grama nem parecia pinicar mais. e você me pedindo para olhar bem nos seus olhos. e eu, tonta, errando a direção. foi quando seus olhos vermelhos me disse o eu te amo mais sonoro e bonito que os carros pararam de fazer barulho à nossa volta. era silêncio. e o murmúrio que existia só era o da minha risada de boba e sonhadora. você me apertou mais e me disse uma infinidade de coisas que eu nem imaginava existir no vocabulário dos românticos. era a gente ali. dando certo. se entendendo. se amando com tanta vontade que não bastava o amar, tinha que dizer. e díziamos. e repetíamos porque tínhamos todo o tempo e aquele instante ali merecia o exagero de palavras. assim como eu merecia você desde sempre.


dono dos meus planos. por agora, também é dono das minhas poesias. é por você que me declaro.


"Muito mais que com amor ou qualquer outra forma tortuosa da paixão, será surpreso que o olharás agora, porque ele nada sabe de seu poder sobre ti, e neste exato momento poderias escolher entre torná-lo ciente de que dependes dele para que te ilumines ou escureças assim, intensamente, ou quem sabe orgulhoso negar-lhe o conhecimento desse estranho poder, para que não te estraçalhe entre as unhas agora calmamente postas em sossego, cruzadas nas pontas dos dedos sobre os joelhos." [ Caio Fernando Abreu ]

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