o labor das línguas

quarta-feira, 29 de setembro de 2010 às 19:02
Juro que não queria falar de você. Não que me falte palavras. Tenho-as aos montes. E combinações entre elas me surgem à cabeça todo minuto. Mas, sabe, não quero que se veja por aqui. Não sei, inclusive, que importância te dar. Medo de que você veja que acho nós dois confusos e se surpreenda porque talvez você nos ache extremamente claros. Pretensão pura já que parto do pressuposto de que você me lê. Acho que nem o faz, sinceramente! E se um dia quem saiba venha a me encontrar, não quero que discutamos registros passados de sentimentos que morreram ou amadureceram. Porque é isso que acontece com os encantos, não é? Eles morrem ou se transformam (em amor, por vezes). E não sei nem o que somos, o que fomos, quanto mais saberei o que vamos ser! Embora esse futuro nosso seja cada vez mais próximo. Então, quando ele chegar, pomposo ou desastroso, eu escrevo coisas sobre você. Te escrevo sobre sentimentos que, dessa vez, serão diagnosticados (assim, bem visceral!). E espero que você os leia. Porque é assim que tem que ser. Como será, não sei.


"Acordei hoje com tal nostalgia de ser feliz." [ Clarice Lispector ]

corre e olha o céu

terça-feira, 21 de setembro de 2010 às 19:57
Porque são humanos, são falíveis. E não espero nada deles, a não ser essa falibilidade que é minha também. Que é de todo mundo. E espero que eles maquiem minhas imperfeições tanto quanto maquio as que são deles. E faço de bom grado. Na verdade, faço porque não sei não fazer. Faço porque é meu, é a minha natureza deixar levar. E o que fica, o que finca, o que importa, isso não se vai. Fica numa caixinha que cultivo e cativo. E fortalece porque amizade é isso mesmo: força. Mas porque sou humana, portanto, falha por definição, também quebro. E quebra junto toda essa força que cuidamos e nos mostra uma fraqueza que também é minha. Que é de todos nós. Remendar uma corrente não dá certo. Qualquer remendo, seja qual for, não fica como era antes. E eu vou tentar consertar, juntar os pedacinhos, fazer uma nova caixinha, quiçá. Tapar alguns buracos... E se não der certo, a gente constrói de novo. Porque são humanos, não são recicláveis. E eu não quero esse quebranto de novo. De novo.



"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal." [ Oscar Wilde ]

o amargo

quinta-feira, 16 de setembro de 2010 às 19:11
por que ainda ficas? por que ainda me olhas com estes olhos pedintes? por que tentas buscar explicações pra toda essa coisa ilógica e racional que é o desamor? vai te embora. não voltes, se puder. não ligues, se conseguir. não me procures, lhe peço. e quando me vir passando pela calçada, não sorrias como sempre fazes com qualquer um. quero estar aquém de qualquer simpatia que possas oferecer. tampouco posso oferecer-te nada além do que meu desprezo. e não te espantes com minha aspereza. nem lhe é tão novo, embora pra mim não seja caro. mas esse vômito é tudo que acumulei dias e dias de aversão que contive por carinho a ti. mas até o carinho já se foi. a catarse se faz necessária. se puder entender, entendas. se não puder, partas com muita dor. essa és tu, a que sempre sofre. não compartilho de nada que possas ter lhe causado pesar. tu mal queiras ver o mal que, conscientemente, me trouxeste. não reclamo, contudo. tu nunca tiveste tez de bons ventos. olhe, sigas teu caminho, longe do meu, faças o favor. e escondas tu esse choro dos olhos. não me causa piedade esse amadurecimento de um amor solitário. agora vai-te. vai!


“Cuidado com as ilusões, mocinha, profundas e enganosas feito o mar que é teu elemento.” [ C. F. Abreu ]

o doce

sábado, 11 de setembro de 2010 às 11:39
se aconchegue, pequena. venha, meus braços estão abertos e clamantes. teu cheiro inundou a sala antes mesmo de chegar, eu estou aqui esperando que te atraques em mim. largues o quente da caminhada e venha para que minha pele te aqueças com mais fulgor. sorrias assim, menina. é tão gostoso tua risada de descanso. teu leve sussurrar de agradecimento implícito. as palavras transbordam e eu as ouço porque essa é nossa paz. e o leve comentar da existência do mundo lá fora me faz regozijar ainda mais esse mundo só nosso aqui dentro. encaixe tua cabeça no meu peito. é bom mexer nos teus cabelos e ver que o cheiro suave do teu shampoo me inunda inteiro. engraçado, amor meu, toda vez que sinto tua falta, toda vez que estou longe de ti, é esse cheiro dos cabelos que vem à cabeça. me visita sempre a imagem de ti dormindo aninhada em mim quando estamos vendo filme no sofá. tu que não gostas de filme, aceitas sempre como pretexto. gosto desses subterfúgios que tu aceitas e inventas só pra que a gente se tenha. gosto mais ainda quando me acordas com a fumaça do chá e com palavras calmas da beleza do dia. tão bonito, morena, que o dia pra ti esteja sempre tão belo! que a chuva seja motivo de abraço e o sol motivo de mãos dadas. chegue mais perto, meu bem. chegue...


“Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas.” [ C. F. Abreu ]

nunca demora

segunda-feira, 6 de setembro de 2010 às 23:19
a história de amor, nada mais é, que a história do mundo. eu não sei se é o frio das pernas ou o preto dos olhos, não sei se é a nostalgia dos setembros fugidos, muito menos se é a interminência e - por que não? - a impertinência das lembranças tuas que não me desgarram. eu não sei bem... só sei que dona do meu próprio individualismo eu me declaro perdedora. me dividi em você como nunca ousei me dividir com ninguém mais. meu cordão umbilical não se rompeu. me pego ainda pensando no que você irá achar sobre isso ou aquilo, já que você sempre teve opinião pra tudo. já que você sempre quis participar de tudo e medir e desmedir e escarafunchar toda essa minha vida que não te era palpável. lembro-me de como eram as saudades de você que me faziam escrever ilimitadamente, uma poesia até bonita, doce e entregue. mas agora, a saudade continua e aperta e arqueja e incomoda, mas mal consigo compor algumas linhas para agradar minha vaidade. ou a vaidade alheia. e não vou falar de amor. falta, eu sei que falta. quanto tempo faz que o perfume do jardim não nos invade? mas falar de amor, é ferir algum orgulho, que não teu, que não meu, orgulho de alguma coisa que fomos nós, um substantivo uno que talvez nos defina ou que já nos definiu, pois agora tudo já foi. vejo que sobrou tanta coisa amarga e morta. vejo que saudade também é impulso. e corro aqui pra te contar, ferindo orgulhos abstratos, que escrevo sempre pra suprir tua falta. embora preencher qualquer coisa seja sempre uma ilusão.


"Sou o que falho." [ Fabricio Carpinejar ]

"gosto do que começa com j"

sexta-feira, 3 de setembro de 2010 às 14:26
você disse que não era mais um menino e isso, de alguma forma, me fez entender que você me via como uma menininha. me fez convites aos montes que eu recusei com suprema dúvida. me fez elogios desconexos que eu não entendi, mas que me convenceram. fomos. e muito do que deveria ser, se exacerbou e tornou-se grosseiro. não sei com que força bruta me esquivar. mal sei se faz algum sentido tudo isso que eu penso de você agora! e, dentro desses seus olhos largos, eu vejo algum pensamento de desaprovação que me faz querer fugir. e fujo. porque você parece muito, mas não é. e agora já foi.

"Não me peçam para dizer quem sou e não me peçam para não mudar." [ Michel Foucault ]

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