livro de reclamações

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011 às 11:50
Disse-lhe, aos gritos, senão aos berros que "eu não preciso que ninguém cuide de mim!". Esqueci-me de acrescentar que, embora não precisasse, não significava que não queria. Era isso tudo o que queria dizer: não preciso, mas quero. Não disse. Havia alguma fúria nova que não me deixava pensar e por consequência não me deixava dizer. Esse silêncio travado que nos causa briga. Eu sei, eu sei.

Revolto-me com tamanho descaso de um lado. E as cobranças, então? Por que surgem? Se vez ou outra estou eu ali cuidando dos ébrios queridos, da avó partida, de mim mesma cheia de dúvidas mundanas... Por que me cobram tanto zelo se pouco recebo? É egoísmo demais meu me questionar essa dinâmica no terreno do bem-cuidar? E amor não é um pouco disso, de reciprocidade?

Não preciso que cuidem de mim. Meus pais nunca abriram a porta do meu quarto ou nunca questionaram o inchaço dos olhos. Passei quatro anos na ilusão de estar sendo zelada por alguém que de tão longe e desprezível me fez enganar! Aprendi a procurar - sempre - uma mão a segurar, mas aprendi - mais - a não achar nenhuma e seguir em frente.

Meu livro de reclamações está cheio, mas as angústias ficam menores e bobas quando proclamadas. Lendo agora me acho criança e tola, mas alívio é sempre a minha busca. Vou me isolar um pouco. Quem sabe encontro um alento a mais?


"A felicidade é apenas uma invenção para tornar a vida mais suportável." [ José Saramago ]

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