sê magia

sábado, 31 de julho de 2010 às 22:34
... e me deu uma coisa louca, estranha e insolente que eu não sei como chamar, talvez ciúmes, é ciúmes, acho que é isso. não de ti. faz tempo que não te tenho o apreço de outrora, mas ciúme desse teu amor desmedido e explícito por ela. quem é ela? por que ela mereceu tua ternura mais do que eu? porque ela teve sacrifícios teus que tu jamais fizeste por mim? talvez seja despeito, mas ainda assim acho que é ciúmes. ver essas fotos e palavras bonitas. veja só, palavras mesmas! exatamente os mesmos versos tirados de filmes que tu gostavas, e eu gostava, e que escrevias pra mim como se fosse um bucado de carinho, alimento pra pássaro. muita ousadia tua jogar aos quatro ventos o que me deste e negaste logo em seguida, assim como quem muda de idéia do caminho mais seguro pra se chegar à escola! não sei se é ciúme ou egoísmo, mas esse querer-te longe se misturou com alguma coisa como querer-te só e por fim, com querer-te frágil. contudo, não quero-te triste. alegria aos montes pra ti e pra tantos outros que me trouxeram nuvens negras de dissabor. não, não é ciúme. é petulância esse fingir amizade? ainda mais nós que nunca estivemos no mesmo degrau! e tu, que sempre vinhas quando não estava e foi-se quando cheguei. é uma coisa louca isso. não sei como explicar. parece com ciúme, se não o é...


É verdade que, se extrairmos a vaidade desse pobre amor, resta muito pouco; uma vez privado de vaidade, ele vem a ser um convalescente fragilizado e mal pode se mover." [ Stendhal ]

nobres ilusões

sexta-feira, 23 de julho de 2010 às 14:40
Na gaveta de baixo, dessas gavetas em que ninguém se abaixa pra abrir, gaveta de coisas que você nunca usa, é nela que estão todos os diários de menina. Tempos de menina que ela se esqueceu por orgulho. Há tempos, clama aos ventos ruidosos da cidade de praia, de que não é mais menina! Há tempos... E alguma coisa muito madura dentro dela nasceu, é verdade. Mas ali guardado, há quanto tempo mesmo?, estão os escritos passados. Ela sempre gostou muito de escrever. E egoísta, como regem os astros, sempre gostou de escrever sobre si, embora a faculdade de agora a obrigue a escrever sobre todo o resto. Eram muitos diários. De muitos anos. E muitos amores. A letra quase a mesma, com algumas variações de tamanho e cor de caneta. Citações, como sempre! Todos eles possuíam citações de frases de alguns dos muitos livros que ela costuma ler desde muito cedo. Riu quando viu que já lera Paulo Coelho. E gostava. Riu mais ainda quando, aos 14, disse que Virginia Woolf era confuso. E nas páginas enfeitadas, sentiu-se mais menina quando viu que muito do que estava ali, com alguns erros pouco usuais de gramática, ainda era sua vida de agora. Os temores infantis da solidão efêmera. A dubiedade entre ser e parecer, entre o mostrar e o mentir, essas coisas que a gente acaba por nunca escolher quando cresce. Ah, e os amores confusos e fugazes. O se jogar por inteiro naquilo que ainda é superfície e se frustrar quando descobrir que muitas coisas, não possuem nada além do superficial. O famoso invólucro falacioso! Não precisava ser menos menina pra saber que tudo isso existe, mas foi só depois de grande, não muito grande, que ela descobriu que essas coisas permanecem. Como um estigma. Fechou todos os diários e a gaveta. Descobriu-se mais que revelada, descobriu que não é só o maldito ato de escrever compulsivamente - com um quê de egoísmo solar - que continua o mesmo, tudo o mais também. Assim sem nenhum brilho.


"Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta." [ C. F. Abreu ]

testemunhas #2

quarta-feira, 21 de julho de 2010 às 00:25
- Vem cá, sabe do que eu gosto em você?
- Ahm?
- Desse seu jeito de ficar se olhando no preto dos meus olhos. Quando você acorda cedo e me olha, aí lembra que está despenteado e fica se arrumando pelo espelho que são minhas pupilas.
- É disso que você gosta? Do meu egocentrismo matinal?
- Ai, você tira todo o charme da coisa... Gosto disso, ué. Parece que tenho brilho nos olhos. Do contrário, você não iria se ver.
- Você tem brilho nos olhos...
- Tenho?
- Na verdade, todo mundo tem!
- Ai, tá vendo? Você sempre perde o momento de ser romântico.
- Não vejo nada de romântico em brilho dos olhos. Aliás, acho clichê por demais.
- O romantismo é um monte de clichê que todo mundo gosta e sempre faz efeito. Ser criativo não serve pro amor. Serve pra muitas outras coisas. Pro amor, não.
- Hmm...
- Que foi?
- Você falando de amor...
- O que que tem?
- Não sei.
- Te incomoda?
- Não. Mas me lembra que tem assuntos entre a gente mal resolvidos.
- Não tô querendo te lembrar de nada.
- Botando culpa no subconsciente? Isso não é nada criativo. Clichezaço!
- Você leva tudo pro lado do mal.
- Você leva tudo pro lado do amor. Sempre.
- Não sei qual é o problema...
- É, nem eu.


O amor é tão arrogante que não aceita virar amizade. [ Fabricio Carpinejar ]

testemunhas #1

domingo, 18 de julho de 2010 às 00:08
- Quando você fica assim...
- ...assim como?
- Espera! Eu não terminei de falar.
- Desculpa. Vai, quando eu fico assim...
- Então, quando você fica assim, toda encolhidinha, com as mãos por entre as pernas, e as pernas, por sua vez, enroscadas uma à outra, eu sei que você tá pensando em alguma coisa pra dizer e no fim, decide por não dizer. E fica com esse seu olhar de quem quer muito contar, mas não pode. Ou tem medo.
- Isso tudo você percebe pelo jeito como me encolho? Pode ser frio...
- Não é. Não é assim que você sente frio.
- Posso estar com frio nas mãos.
- Pode, mas não está.
- Humm... Essa explanação toda é pra mostrar que você me conhece bem?
- Não te conheço bem...
- Não? E consegue entender os mínimos dos meus jeitos com uma sabedoria dessa proporção e acha que não me conhece bem?
- Você é fácil de decifrar.
- E isso é bom ou ruim?
- Depende.
- ... do que?
- Depende do que você quer dizer. Ser transparente é bom pra quem quer que te escutem, que te entendam. Ao mesmo tempo é ruim, se você quer que seus pensamentos sejam sempre mistério.
- Então eu não sou misteriosa?
- É.
- Isso faz sentido pra você? Pra mim, não faz algum!
- Porque você sempre, de algum jeito caricato, mostra que tem algo pra dizer, ou algo que você sente e te incomoda, mas não diz. A gente, eu e todo mundo, vemos em você essa catarse contida. Mas nunca sabemos o que é.
- Bonito.
- O que?
- Essa maneira como você me vê. Ou... como você mesmo diz... como me veem.
- É...
- Engraçado que...
- De novo!
- O que?
- Você não deixa eu terminar de falar!
- Desculpa.
- ...
- Diz!
- Já esqueci.
- Eu sou ansiosa.
- Eu sei.
- É, você sabe demais de mim.
- Menos aquilo que você não diz...
- ...e que me faz encolher toda. Eu sei.


Tentar entender o outro como a gente se entende ainda é não sair de si mesmo. [ Fabricio Carpinejar ]

brilhos falsos

segunda-feira, 5 de julho de 2010 às 19:38
mais uma vez. num eterno retorno infalível, mais uma vez. o cenário não mudou: essa mesma rodoviária para dizer o mesmo adeus. só a pessoa que mudou. que bom! embora o sorriso, desconfio, é quase o mesmo. é agonizante ver que todas as pessoas estão partindo e eu continuo no mesmo lugar. é essa espera no porto, no ponto fixo. é essa insensatez de quem vai que incomoda. e fere. porque ir é sempre doloroso. e a partida sua me lembra que nenhum azul do céu vai esconder essa coisa bonita de se escrever que é a falta. e quem vai me dizer que não faz sentido algum a espera? que saudade é medo de se sair do lugar? se estou aqui, foi porque vim de algum outro ponto que, de tão pequeno, me expulsou! mas aqui, de tão grande, me cabe tão bem que vê-lo voltando pra longe, me dá a certeza que meu abrigo não é mais uma cidade, são teus braços. que cheiro seu é meu aroma de cura-ressaca. que o som da sua voz, assim meio cantada, nesse sotaque viajado, é bem desse jeito, que não vou dizer qual é, não cabe aqui, mas que você sabe, se bem sabe e bem gosta. e judia. judia porque sabe. e sabe fingindo esquecer. venha você me dar um último abraço. desses apertados que só você sabe dar. mais uma vez, se puder. e volte. estarei sempre aqui, você sabe...


"E eu estava só começando a entrar num estado de amor por você. Mas não me permiti, não te permiti, não nos permiti. Pedro Paulo me dizendo no ouvido "nunca vi essas luzes nos seus olhos".

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