Prímula

terça-feira, 31 de março de 2009 às 23:14
Como uma flor nascendo do asfalto. Daquelas bem vermelhas pra chamar a atenção. Ou pode ser amarela. Que seja pequena, humilde, guerreira. Mas uma flor. Contrastando com a dureza do chão, com a correria dos passos, com a sujeira dos sapatos. Ela era aquela flor vermelha, quem sabe amarela, ah melhor amarela, nascendo da dor daquele amor renegado. O amor que se fez história. Uma história que se fez guerra. Uma guerra que termina e se faz paz. Paz! Ela que tinha medo dos raios mais barulhentos, agora se entregou à tormenta dos dias chuvosos. Bebe a água da chuva para se nutrir, tão fraca e pequena... Precisa crescer a menina. Precisa vencer. E aquele amor, por maior que fosse, a deixava desprotegida. Não se entregou à dureza do esfalto frio (sim, era noite!). Nasceu dali, amarela e humilde, para se mostrar vitoriosa e capaz. Ela não tem mais raízes, mas está ali, esperando alguém arrancá-la do chão e levá-la para longe. Para outros horizontes.


"As coisas mais insignificantes têm às vezes maior importância e é geralmente por elas que a gente se perde..." [ Fiódor Dostoievski ]

Sonhos despenteados

quarta-feira, 25 de março de 2009 às 22:14
Era sempre o mesmo sonho. Ela correndo. Correndo. Correndo. Correndo. Às vezes era dia, com o sol forte queimando os ombros, cegando a vista. Noutras, era noite, na escuridão dos becos e esquinas sujos que ela passava. Mas estava sempre correndo. Eufórica, medrosa. Tropeçava nos próprios pés ao olhar pra trás. Olhava e não via ninguém. Mas fugia. Sempre. O medo no rosto, a esperança nos pés.

Fechou os olhos. Cansada da madrugada alta. O descanso merecido. E o sonho começou. Novamente os pés em movimento, ela corria. Já conhecia bem as ruas, as casas, suas feições agitadas, o cansaço. Não entendia porquê sempre o mesmo sonho. Não entendia porquê sempre correndo, sempre fugindo. Não entendia de onde vinha, pra onde ia, de quem se escondia.

Antes de acordar, lá no final da rua já tão lembrada, ela viu. Não estava fugindo. Estava buscando. E bem lá no fim, de braços abertos, com o sorriso maior que existe no mundo, com uma blusa preta com uma coroa dourada na frente, uma guitarra nas costas, cachos pretos penteados e um coração transbordando carinho, estava ele. Era ele quem a esperava. Era ele por quem ela ansiava nos passos fortes das suas corridas. Era pra ele que ela percorreu todo o percurso do medo, da fuga. Para se encontrar. Para o encontrar. Para chegar. E chegou. Destino final: o abraço eterno.


“Tenho um amor fresco e com gosto de chuva e raios e urgências. Tenho um amor que me veio pronto, assim, água que caiu de repente, nuvem que não passa. Me escorrem desejos pelo rosto pelo corpo. Um amor susto. Um amor raio trovão fazendo barulho. Me bagunça. E chove em mim todos os dias.” [ Caio Fernando Abreu ]

O que não se esquece

terça-feira, 10 de março de 2009 às 17:13
Eram meio-dia e sete. Estava na cadeira única do 217, cuja tarifa é 15 centavos mais cara pelo ar condicionado. O centro do Rio estava movimentado como sempre. Seus engarrafamentos costumeiros, sinais de trânsito em cada esquina, pessoas aos montes, ar cinza, lixo e muito calor. Tudo prosaico para uma terça-feira de março. O ônibus parou no sinal da Rua da Carioca. Olhei pela janela, minha velha abstração de observar as pessoas e vi. Vi! Uma pessoa, suja, só com um short rasgado passando por entre as outras pessoas. Bastante normal seria se não houvesse um detalhe peculiar: ele tinha as pernas defeituosas. E andava... rastejando! Sim, rastejando! Não na maneira mais grossa do rastejar, mas suas pernas faziam voltas, como molas que perderam o contorno, de maneira que ele se locomovia apoiando-se nas mãos e puxando-as como se fosse um peso inevitável. O sinal demorou o tempo exato para eu observar bem essa cena. Um homem rastejando pela calçada. E demorou mais ainda a ponto de eu perceber que ninguém se dava conta disso! As pessoas passavam e não olhavam, e não percebiam, e não se solidarizavam, nem ao menos olhavam com pena. Não olhavam. Ou simplesmente olhavam e não reparavam desviando o olhar para o caminho que segue. Foi um espanto pra mim! Desde pequena, minha mãe me ensinou a não olhar para as pessoas que eram diferentes. Um dia, lembro-me bem, eu fiquei olhando para um homem de cadeira de rodas e ela me deu um tapinha: "Não olha!", "Por que?", "Porque é feio olhar. A pessoa vai se sentir incomodada.". Levei isso pra minha vida toda. Porque era uma agonia imensa. Eu queria olhar o disforme. Por que não olhar? É diferente de mim, ora essa! E a tal curiosidade humana sobre o que nos é peculiar? Talvez fosse mesmo incômodo ser olhado como algo destoante, mas era essa a verdade. Alguém sem braço é diferente de você, ou mesmo da maioria. E tem que ser visto, ser notado como diferente. Não há como fugir! Naquele momento, eu me escondia atrás do vidro para olhar aquele ser tão estranho a mim. Talvez se fosse uma transeunte teria a mesma surpresa, mas esconderia abaixando os olhos. Até que ponto fingir que não se surpreende, esconder curiosidade, solidariedade, pena, é saudável? Aquele ser, tão incomum, tão diferente de todos nós, passando despercebido pela multidão da cidade, que preocupadas demais com horários e compromissos se esbarram e apressam passos, sem notar uma pessoa rastejando ao seu lado? Alguém pararia para perguntar se ele precisa de ajuda? Talvez nem precisasse, estaria acostumado, mas que bem faria saber que alguém pensou em ajudá-lo? Alguém teria se assustado? Ou rido? Ou se preocupado? Alguém teria saído do seu mundo particular para olhar o do outro? O dele que estava tão próximo do chão e tão longe de todas aquelas pessoas potentes com suas duas pernas perfeitamente simétricas? Todas as pessoas, com suas educações passadas pela sociedade, de que olhar o inexato é ofender, humilhar, estão achando, sem querer, uma maneira de não se importar, não se preocupar. Um ser humano que vive 24 horas por dia sendo olhado de cima merece preocupação! Mas todo mundo se recusa a olhar. Todo mundo se recusa a pensar que ele merece, no mínimo, uma cadeira de rodas.

Saí do meu ônibus de ar condicionado pensando que eu sou muito menor do que esse homem que olha tudo do ângulo mais inferior que se possa imaginar. E, pra mim, pior que ser olhado com inferioridade, é não ser olhado. Desprezo ou julgamento? Não sei o que é melhor. Só sei que, pela minha impotência, dedico a ele esse post.

Páginas amareladas

domingo, 8 de março de 2009 às 17:26
E a escrita abre as portas da minha cabeca, sem acentos, sem limites.
Falsas amizades as mais de 1000 que tenho. Em um mundo onde no maximo terei ate o fim de meus tempos uns 100 amigos.
Mas de que importa!? Nao me importo. Te importas?! Nao te importes. A vida e muito curta para passarmos pensando nas formalidades
Formalidades. Aquelas que inventamos. Cabe a cada um aceita-las, ou nao.
Que mal ha em comer a sobremesa e depois o prato principal?!
O mesmo mal em tentar ouvir aqueles que nao se enquadram no plano dos normais.
O mesmo mal em querer questionar nossas escolhas.
O mesmo mal de ir contra a maioria.

Afinal, rotulos e maneiras pre-fixadas. Por que nao viver a vida a sua maneira?! Por que questionar a conduta de alguem?! Por que tentar tornar as coisas artificiais?!
De artificial basta esse ambiente virtual que me causa simbiose. Sou um bando de 0001010101110.
Bom?! Ruim!? Artificial?! Natural. Natural!?
Solte o freio de mao de sua mente e pense em palavras diferentes, tente unir as palavras diferentes..... forme ideias diferentes. Sem acentos.
Porque a criatividade surge a partir do momento que a damos liberdade.
Sobre o que estava falando mesmo!? Quem se importa?! Nao me importo. Te importas?! Nao te importes. Apesar de toda previsibilidade, a vida continua. Seu mundo, meu mundo, aquele que esta invadindo enquanto le!? Me conheces?! Nao me conhece. Nao me conheco. Te conheces!? Aposto que nao. Aposto que nao tem o controle sobre ti. Te julgo porque tenho o direito, ja que queres me conhecer. Se quer conhecer um pouco do lado de ca, tenho que estar a par do lado de la.

La, ca, bah, ta.....

.... bem vindo ao meu mundo.

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