Parati

terça-feira, 1 de dezembro de 2009 às 15:04
Deitei numa cama alheia. Com um lençol alheio. Com uma pessoa alheia. Tirei a roupa que era minha. E entreguei o corpo que não era mais meu. Nem seu. Nem dele. O resto não me lembro mais. Não que tivesse ébria ou louca. Só não quero mesmo me lembrar. O que vagamente me lembro é de me virar de lado, depois de muitas horas, sentir um calor sufocante e ouvir a voz, que não era minha, devia ser dele, dizer:
- Você está chorando?
Foi aí que meu dei conta de que havia uma lágrima solitária no canto do olho. Estava chorando.
- Claro que não! É o suor.
E suava. Suava muito. Não sabia se o suor era meu ou do corpo alheio. Não sabia se aquelas mãos geladas eram minhas ou dele. Não sabia mais o que era meu. Nem o que tinha sido seu. Nem o que era dele naquele quarto, que certamente, nunca estivera. Não que não quisesse saber. Dessa vez não sabia por embriaguez ou loucura mesmo.
- Quer cigarro?
- Quero.
- O que você tá escrevendo?
- Nada... Coisas que são feias na realidade, mas que ficam bonitas quando escritas.
- Sei.
Essa pessoa não sou eu. Essa pessoa alheia não é minha. E você, você não está mais aqui.

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