sobre ir embora

segunda-feira, 12 de outubro de 2009 às 15:23
pegue aqueles nossos segredos e leve embora. leve o livro do desassossego do pessoa que eu pedi que você me desse, mas nunca deu. está aqui em casa faz muito tempo. mas não é meu. pode levar! leve também toda a sujeira dos meus pés descalços! você com essa mania de chinelos, eu com minha mania de andar no chão gelado. agora você não vai reclamar mais quando eu sujar o lençol com a poeira do dia. leve a caneca de café. não precisarei mais fazer café de madrugada para te dar o colo dos dias difíceis. a caneca já puida de tantas vezes ter sido atirada na mesa, lembra as vezes que você com raiva a derrubava me acusando de estar mentindo? leve também minhas mentiras pra você tão claras! pra mim ainda quase pinturas. quase espelho. quase caminho. leve também o guarda-chuva. nunca fui de usar. leve consigo que eu vou ficar bem sem você reclamando as vezes que cheguei em casa ensopada. você nunca entendeu que eu gosto de me molhar. leve as chaves, pode levar, não precisa devolver. se você sentir saudade do cheirinho de incenso de cânfora, pode chegar. pode entrar sem chamar. se estiver deitada, pode pegar amendoim no potinho da cozinha. não esqueça de trancar as portas. nunca fui de trancar, né? eu usava você como proteção. mas agora feche bem. dê duas voltas, três se puder. e leve tudo que não puder deixar. e deixe tudo que esqueceu levar. mas volte. nem que seja de surpresa.


"Nada pesa tanto como o afeto alheio." [ Fernando Pessoa ]

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