De olhos fechados

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 às 22:50
Era uma noite agitada. O bar tinha umas luzes azuis, bem claras, que dava sutileza a qualquer dança. Pessoas bonitas, jovens, falantes, risonhas. Muitas pessoas. A música, eu não sei que música é essa, mas é gostosa. Os drinks são coloridos. "Por favor, eu quero um sex on the beach." O bartender sorriu. "Sozinha?". Só sorri. Nesses lugares, me disseram, falar sempre atrapalha, só sorria. Eu pensei em dançar, mas a minha condição de expectadora ali na beira do bar, era muito mais confortável. Me sentia bem mais confortável como socióloga e idiossincrática que sou, só olhando as pessoas, seus flertes, seus sorrisos falsos e suas danças ostensivas. Estavam todos querendo ser o que não são e querendo ter o que nunca tinham. Mas... aquele ali, no canto, de cabelos cacheados e barba... Aquela blusa azul e branca.. Eu conheço aquela blusa, e talvez aquelas costas. Conheço esse pescoço e... Nossa, é claro que eu conheço esse sorriso! Como eu não reconheceria? Quantos anos se passaram? "Mais uma?". Aceitei a oferta do bartender. Dessa vez vodka com morango. Bem forte. E era ele. Lindo como sempre! Com ela... Nossa, como era bonita! Cabelos longos e uma risada que parecia não ter fim. Como será que se conheceram? Eu virei pro bartender. Não, não vou ficar olhando. A vida continua, certo? A dele continou. Ele seguiu em frente. Eu estou aqui. Tivemos bom momentos, uma linda história e agora eu estou aqui com uma bebida colorida e ele com uma mulher que veste bota. Sempre achei super chique mulher de bota! Será que ele me viu? Me reconhece? Ainda me ama? Virei de novo e ela não estava mais lá. Ele estava com as mãos no bolso, jeito típico, um olhar meio vago. "Tequila! Agora eu quero uma tequila! Duas!". O bartender riu, sabendo a linguagem apropriada desses lugares. "Vá com calma, minha linda." Linda? Odeio pessoas que te abordam com adjetivos. E esse bartender tá com um sorriso muito largo pra mim. Viro de novo e ele me vê. Damos um sorrisinho sem graça, desses que chamam de amarelo. Então dou as costas, como uma criança assustada. "Ei", digo pro bartender, "Qual é o seu nome?". Tá, eu só queria dizer pra ele ok-você-está-com-sua-namorada-e-eu-to-muito-bem-como-o-meu-paquera-que-serve-drinks. Acho que o bartender se empolgou. Até me chamou pra dançar depois das duas. "Eu não danço." E ele riu. Como riem esse pessoas daqui! Que graça tem isso tudo? Depois do sorriso aliciador, mais uma dose, de que era? Não sei, era algo vermelho e bonito, cheio de gelo. Chegou mais perto "Essa é pra você.". Nossa, mas chegou perto demais, senti até o hálito de menta. Eu ri. Ah, vai, todo mundo ri, quero fazer parte desse código. Foi quando eu virei de novo, talvez ela já tenha voltado. E no momento que eu me virei, ele estava logo atrás. Com aqueles olhos bem pretos e pequenos, a barba tão desenhada, tão gostosa de enterrar as mãos. Deus, como ele é lindo! Essa beleza me doía. Foi quando ele disse "Ele não é suficiente pra você." E saiu. Saiu! Virou as costas e saiu! E bateu a porta. "Ele não é suficiente pra você." O bartender? Quem? Qualquer pessoa? Ele? Acho que eu vou vomitar... Acho que bebi demais. Acho que vou atrás dele e gritar "Ei, quem você pensa que é pra voltar depois de todos esses anos e me dizer isso?". Acho que não sei o que fazer. "Ele não é suficiente pra você". Essa frase não sai da minha cabeça. Nunca mais!

"Às vezes te odeio, por quase um segundo, depois te amo mais..."

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