da cor do azeviche

terça-feira, 29 de junho de 2010 às 20:04
eu penso que queria ter você por perto e você me aparece, de repente, com alguma camisa xadrez e o cigarro entre os dedos contando a alguém, alguma história muito boa de se ouvir. e penso como foi bom ter pensado em você com tanta força e você ouvir. e repenso, então, que você estava ali não foi porque eu te quis, alguma coisa entre destino e acaso te fez mais perto. você finge que não me vê. mas em alguma hora, já lá pras tantas, você procura meu cheiro e encontra meu pescoço. é sempre assim que você se aproxima: pelo carinho que seu nariz faz no meu pescoço. não reclamo do atraso. a espera é caminho e de que vale o destino sem a estrada? prometo ser a última vez que me rendo às suas palavras filosóficas. prometo não mais me derreter pelos seus olhos, pretos de sentido, que perscrutam todo o meu rosto, como se quisesse gravar ou descobrir. olhos de ator. ah, mas não adianta promessa quando não existem palavras. essa coisa submissa do sentimento. sinto tanta coisa boa ao seu lado, algo que emana do seu cheiro e do seu beijo. e quando acordo, vejo que promessa alguma se sustenta. mas prometo. sempre. penso que é muito bom acordar do seu lado, enlaçada nos seus braços. é daí que vem seu encanto: a proteção que você me dá, até mesmo dormindo. a forma como você me oferece dedos, mãos, o quente dos pés, e o carinho da barba. assim, sem eu sequer pedir. embora quando falte, eu reclame. gosto tanto quando você se mexe com cuidado, para que eu não acorde com seus movimentos. eu acordo e rio quietinha, porque é bonito ver que você se importa, mesmo que tão pouco. e penso nas vezes que você esquece histórias da minha vida que te contei em mesas de bar. dessas muitas mesas que a gente sempre se esbarrou, relembrando que tudo da gente é casual e efêmero. mas esqueço tudo quando vejo você me dando sua toalha primeiro para que o frio fora da água quente, não me tome de início. aí eu penso em todos os seus livros espalhados pelo chão da sua casa na árvore, como se fosse algum caminho que me fez chegar até ali e como você ouve com atenção e júbilo tudo que eu tenho pra dizer sobre eles. gosto quando você me convence da sutileza da poesia enquanto eu te oferto uma prosa barata. e a gente se deleita. e se afunda no colo. porque amanhã eu vou embora. mas a gente se esbarra por aí, né?


"Não adianta nem me abandonar... porque mistério sempre há de pintar por aí." [ Doces Bárbaros ]

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