pedra do mar

domingo, 20 de junho de 2010 às 02:19
a noite é alta, o café é pouco, o sono nem existe. te compus alguns pensamentos. afasto. essa proibição autoimposta tem sido veneno frequente. assim mesmo sem trema. engraçado que pensar em você, assim depois de tanto tempo de amargura, fere sem querer. não sei porque você voltou atrás, só sei que não mudou muito a maneira como te vejo. e te ver imperfeito, por vezes cruel, deveria ser um acorde dissonante nessa coisa toda complicada e egoísta que é gostar. e ironicamente eu gosto. um gostar seco e lapidado. desenfreado, confesso. já gostei sem medidas. mas hoje não me arrisco. não penso no amanhã. não me preocupo com o depois. mas os limites são para não provar a mim mesma meu caráter vil. embora ecoe na cabeça gritos que não me façam esquecer minha podridão. de qualquer forma, vamos separar aquilo que já passou daquilo que está por passar. eu vejo vindo alguma coisa bem vazia. mas vamos em frente. quem sabe por entre a névoa não há ainda abrigo? ah, se meus limites alcançassem também os castelos que procuro! mas de nada adianta tanto projeto para pouco cimento. eu só me protejo. e não me envergonho de bater na mesa e mostrar que tenho medo e que me escondo. o que se há de fazer? a gente quer liberdade, mas ergue sempre mais muros. e olha que eu já quebrei muito mais muros do que ergui. penso eu. estatisticamente não falando, claro. e você, aí do outro lado, não sabe e nem vai saber dessas coisas desconexas de fria madrugada. e que não saiba! fraqueza minha não vai passar por seus olhos. não mais. quando passou, você desprezou. olha eu te lembrando o que fingi esquecer! não sei não fazer. mas só faço escondido. aqui. ali. mas nunca pra você. só não quero que você me veja como alguém tão fraco como aquele dia na praça das horas. era eu ou era afrodite, escrava das paixões? só não me mostre mais quem é você, porque não me interessa mais saber que tem amor. que alguma coisa na sua cabeça e no seu rosto mudou. embora eu acredite que não foi tão pra melhor quanto você diz. quem sou eu para medir? mas meço. pretensão humana. bem sabe você. e aqui me deixo e te deixo. com muita angústia que me rouba o sono, para que de você não passe nem mais no corredor de vontades. ou de saudades? tenho pressa. e tenho fome do depois porque o agora me cheira passado quase o tempo todo. carne crua. então que finde esse tormento mentiroso. num golpe.


"Por baixo das palavras que dizes, percebo que há outras que calas." [ José Saramago ]

3 comentários

  1. tem coisas que se encaixam tão perfeitamente. duas histórias que talvez não tenham nada em comum, mas suas palavras fazem tanto sentido pra mim como se eu mesma as tivesse escrito. lindo!

  2. Anônimo Says:

    agonizantes negações afirmativas...
    E acordes dissonantes são tão bonitos...

  3. l. Says:

    'a gente quer liberdade, mas ergue sempre mais muros.'
    Prende a respiração, inspira.
    Bom poder dividir as palavras!

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