a menina não queria fugir. e entre todos os momentos que temia, era este o crucial. era este, enfim, o minuto mais ansiado. havia um espaço pequeno entre as bocas. espaço este, suficiente para se fazer anunciar um beijo. o barulho era alto. mas inaudível. as pessoas muitas, suadas, e espalhadas. espremendo-se nos seus próprios corpos dançantes. o lugar era quente, mas o suor das mãos não vinha dele. vinha do outro. não havia cheiro, mas ela sentia perfeitamente, quase como se existisse, o cheiro do desejo. e se era desejo, era vontade. e a menina não escondia o sorriso. sorria num regozijo só dela. egoísta e infinito. o momento ainda durava, por mais curto e paradoxal que pareça. e parece! mas ela não ligava. a menina soltava todos os músculos retidos. deixava os medos, todos eles, irem embora numa cavalaria invisível. e eram os olhos dele, tudo que via. e eram doces. e cada vez mais próximos. e fechados, celebraram os lábios o beijo atrasado. o beijo postergado. o beijo de meses, de uma vida. o beijo dos contos de fada. só que num conto libertino. a menina se perdeu naquele toque macio de bocas juradas. não havia mais pra onde fugir.
mas a menina queria fugir. cada vez mais.
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