andava novamente em direção ao ponto. estava longe. nem sabia ao certo onde era. se passaria ônibus. se voltaria pra casa. não sabia ao certo que viera fazer ali. não, se contradisse! sabia sim o que a fizera estar ali e sentiu-se tola demais ao relembrar. estava indo sem se despedir. de ninguém. estava indo fugitiva, perdedora de guerra. não sabia nem porque estava indo. mentira! sabia sim. não queria lembrar. onde estão os óculos mesmo?
chegou no ponto, mas sentiu que não ia conseguir sem se despedir. e sentiu, mais ainda, que se despedir era um erro. inconsequente que era, errante desmedida, guardou o saco do colchonete por entre uns arbustos para não condenar sua fuga. e foi. foi para o último momento. encontrou-o. e quis dar o abraço mais apertado e saudoso. não deu. os outros abraços não foram bem quistos. mais alguns também poderiam não ser. era medrosa, sabia bem. queria ter dito "cuide da garganta, viu?". não disse. não conseguia dizer. o que disse mal lembra. comprei uma camisa do 'pão e rosas' pra você. não dei. não fazia mais sentido.
voltou ao ponto, dessa vez com o erro consumado. chorava tanto que mal via os ônibus que passavam. passaram muitos ou poucos. não sabia. foi andando mesmo assim. pra sabe se lá aonde. em algum momento parou de chorar. não lembra qual. mas parou.
e se foi. "nunca" e "pra sempre" não existem mais.
"Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva". [ Caio Fernando Abreu ]
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