vou-me embora porque te amo. não, não é tão paradoxal quanto parece. na verdade, é bastante claro como jamais fomos. são com minhas palavras duras, dessas que repudiava de ti e com meu silêncio pouco austero que te incito a me odiar. se com teu amor, ainda criança, ainda ingênuo, ainda preso, encarcerado, eu não consigo ir além. será, pois, com teu ódio que crescerei errante. como uma erva daninha. "no teu jardim, me fiz florescer.", lembra-te? agora, murcha, peço que me arranque pela raiz. jardim tão verde, tão bonito, tão garrido... plante rosas dessas bem coloridas, pintadas por tuas mãos tão talentosas, para que cubra o passado do inverno rigoroso que fui. que sejas um jardineiro bem mais empenhado e se não fores, que haja plantas muito resistentes e vistosas para que tu sintas gosto em acordar todas as manhãs. vou-me embora, já é hora. beleza igual a tua, não hei de achar. nem por aí saio a procurar, fique certo. que tuas mãos estejam sempre quentes. e tua memória sempre viva. e não esqueças que as noites de trovões serão sempre tuas. como um dia, com zelo já esquecido, você as tomou por direito. vou-me agora. e fique onde, porventura, nunca haverá de sair. fique. e deixe-me ir. ir. fique. vou. vá. fico. tchau.
"Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada" [ caio fernando abreu ]
Música ao longe
às
00:05
| Postado por
larissa
- Olha, eu não sou dessas que acredita em analista, sabe. Muito menos que acha confortável e catártico um divã. Também não sou dessas que não tem amigos e procura alguém como você para contar coisas que ninguém quer ouvir. Sei que estou te pagando pra me ouvir. Mas não acredito em você, ok?
- Em mim ou em psicanálise?
- Em ciência. Essa coisa de objetividade é absurda. Você não acha?
- Eu?
- Ah, esqueci! Vocês analistas nunca respondem nada. Eu li uma vez algo que dizia que análise serve pra gente encontrar nossas próprias respostas, e por isso vocês só induzem, nunca respondem. Que besteira!
- Você veio aqui em busca de uma resposta?
- Você até que é um analista que conversa...
- E você é como toda boa paciente que desvia das perguntas.
- Gostei de você. Muito astuto! Então já que você é daqueles que falam e esses 45 minutos estão sendo pagos (eu jurava que eram 50! deve ser coisa de filme...), me responde uma coisa: você largaria tudo que você tem hoje, família, esse consultório modesto, seus amigos, tudo... por uma coisa que você deseja muito, mas está longe?
- Isso tudo que eu tenho é o que eu desejo. O que você tem não é o que você deseja?
- É... é o que eu desejo. Na verdade, eu desejo outra coisa também.
- Coisa?
- Pessoa.
- Que pessoa?
- Isso já não lhe compete.
- Eu sou seu analista.
- Ainda assim não lhe compete.
- E você deseja essa pessoa mais que essa vida que você tem?
- Não tenho muita coisa na vida... Mas o que tenho, ainda assim, é meu. E, de certa forma, largar o que se tem, o que se conquistou, por mais que seja pouco, é muito assustador. Não é assustador?
- Por que é assustador?
- Aí, você já tá sendo um analista de novo! É ou não é assustador?
- Não sei o que você tem.
- Eu tenho o que todo mundo tem. O que você deve ter. O que ele também tem...
- Ele, a pessoa?
- É, ele. Mas o que eu tenho eu quero ter com ele. Mas não sei se quero o que ele tem pra mim.
- Mas você sabe se quer ele?
- Sim, sim. Sem dúvidas. Quero ele. Quero muito. Quero pra caralho, pra dar bastante ênfase.
- Mas ele está longe... E isso exige que você largue tudo - que é pouco - por ele?
- É. Largar tudo, sabe. Essa faculdade sem futuro, meus amigos bêbados e promíscuos, meu lar conturbado. Tudo. Me jogar no mundo. Isso é loucura?
- É!
- É??
- Sim, é.
- Cara, você é um analista. Como você responde "É!"?
- Mas é uma loucura.
- Você não acha certo?
- Não, não acho certo. Largar uma vida que você levou anos... quantos anos você tem?
- 20.
- ... 20 anos pra construir. Uma vida! É uma vida! É uma história! E histórias começadas do zero aos 20 anos não costumam dar certo. Sejamos realistas... A vida não é um filme. Viajar e deixar tudo pra trás por alguém é... no mínimo... insano.
- Insano... Nossa, você tem toda razão!
- Além do mais, nem tudo dura pra sempre!
- Isso é coisa da ciência, que só acredita em números.
- Os números mostram que muitas uniões não dão certo.
- Não me importa os números. Eu ainda assim acredito nas escolhas. Às cegas. Mas é loucura. É insano. Eu sei. Eu sei.
- A não ser...
- A não ser o que?
- Que você esteja apaixonada por ele.
- Como assim?
- O amor nos permite fazer qualquer loucura.
- Mas... mas... que tipo de analista é você? Que mais confunde que esclarece!
- As melhores escolhas são feitas depois da dúvida.
- É assustador, não é?
- Amar?
- Não. Amar não. Escolher amando.
- Assustador...
- Em mim ou em psicanálise?
- Em ciência. Essa coisa de objetividade é absurda. Você não acha?
- Eu?
- Ah, esqueci! Vocês analistas nunca respondem nada. Eu li uma vez algo que dizia que análise serve pra gente encontrar nossas próprias respostas, e por isso vocês só induzem, nunca respondem. Que besteira!
- Você veio aqui em busca de uma resposta?
- Você até que é um analista que conversa...
- E você é como toda boa paciente que desvia das perguntas.
- Gostei de você. Muito astuto! Então já que você é daqueles que falam e esses 45 minutos estão sendo pagos (eu jurava que eram 50! deve ser coisa de filme...), me responde uma coisa: você largaria tudo que você tem hoje, família, esse consultório modesto, seus amigos, tudo... por uma coisa que você deseja muito, mas está longe?
- Isso tudo que eu tenho é o que eu desejo. O que você tem não é o que você deseja?
- É... é o que eu desejo. Na verdade, eu desejo outra coisa também.
- Coisa?
- Pessoa.
- Que pessoa?
- Isso já não lhe compete.
- Eu sou seu analista.
- Ainda assim não lhe compete.
- E você deseja essa pessoa mais que essa vida que você tem?
- Não tenho muita coisa na vida... Mas o que tenho, ainda assim, é meu. E, de certa forma, largar o que se tem, o que se conquistou, por mais que seja pouco, é muito assustador. Não é assustador?
- Por que é assustador?
- Aí, você já tá sendo um analista de novo! É ou não é assustador?
- Não sei o que você tem.
- Eu tenho o que todo mundo tem. O que você deve ter. O que ele também tem...
- Ele, a pessoa?
- É, ele. Mas o que eu tenho eu quero ter com ele. Mas não sei se quero o que ele tem pra mim.
- Mas você sabe se quer ele?
- Sim, sim. Sem dúvidas. Quero ele. Quero muito. Quero pra caralho, pra dar bastante ênfase.
- Mas ele está longe... E isso exige que você largue tudo - que é pouco - por ele?
- É. Largar tudo, sabe. Essa faculdade sem futuro, meus amigos bêbados e promíscuos, meu lar conturbado. Tudo. Me jogar no mundo. Isso é loucura?
- É!
- É??
- Sim, é.
- Cara, você é um analista. Como você responde "É!"?
- Mas é uma loucura.
- Você não acha certo?
- Não, não acho certo. Largar uma vida que você levou anos... quantos anos você tem?
- 20.
- ... 20 anos pra construir. Uma vida! É uma vida! É uma história! E histórias começadas do zero aos 20 anos não costumam dar certo. Sejamos realistas... A vida não é um filme. Viajar e deixar tudo pra trás por alguém é... no mínimo... insano.
- Insano... Nossa, você tem toda razão!
- Além do mais, nem tudo dura pra sempre!
- Isso é coisa da ciência, que só acredita em números.
- Os números mostram que muitas uniões não dão certo.
- Não me importa os números. Eu ainda assim acredito nas escolhas. Às cegas. Mas é loucura. É insano. Eu sei. Eu sei.
- A não ser...
- A não ser o que?
- Que você esteja apaixonada por ele.
- Como assim?
- O amor nos permite fazer qualquer loucura.
- Mas... mas... que tipo de analista é você? Que mais confunde que esclarece!
- As melhores escolhas são feitas depois da dúvida.
- É assustador, não é?
- Amar?
- Não. Amar não. Escolher amando.
- Assustador...
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Ventos d'oeste
segunda-feira, 15 de junho de 2009
às
21:52
| Postado por
larissa
"no teu jardim, me fiz florescer" depois de escrito com letras redondas, bem caprichosas, dessas que a gente demora a fazer pra ter todo cuidado nos contornos das letras mais cheias, ela dobrou o papel em três dobras simétricas. suas mãos de menina, finas, com unhas não pintadas, recém-cortadas fez com que o papel fosse parar cuidadosamente no colo dele. ele sorriu. lembrou-se dos tempos de colégio, onde os cochichos eram feitos por recados de ponta de caderno. suas confissões mais secretas expostas à eternidade das palavras. ele abriu o papel com pouca pressa. demorou-se a sorrir, mas assim que o fez, disse "que lindo, flor!", era assim que ele a chamava. era assim que ela se sentia. todo dia ele lhe dava o abraço mais gostoso, mais forte, mais quente, como se fosse o sol de toda manhã. e dizia, ali no banho, bem no fundo do ouvido o eu-te-amo mais rouco e mais profundo, misturado com o som da água, que era a fonte que lhe regava. e ainda no final da noite, no orvalho frio dos medos e das tristezas, era ele com muita dedicação quem lhe enlaçava, para que nenhuma pétala se perdesse pela escuridão.
... com o choro de cada poda, cada pedaço meu que se vai, um outro mais bonito nasce pra te fazer feliz.
... para o jardinheiro da minha vida. que está longe, mas cada dia mais intenso. todo meu amor. e todo meu pólen.
... com o choro de cada poda, cada pedaço meu que se vai, um outro mais bonito nasce pra te fazer feliz.
... para o jardinheiro da minha vida. que está longe, mas cada dia mais intenso. todo meu amor. e todo meu pólen.
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Dobras
segunda-feira, 1 de junho de 2009
às
21:33
| Postado por
larissa
te escrevo porque hoje não faz sol. se fizesse, eu não escreveria, te ligava. te escrevo porque a chuva é forte e eu tenho medo do frio lá fora. o que não faz muito sentido já que eu também tenho muito medo do frio aqui de dentro. esse frio que veio de ti, depois se misturou com o frio que veio de mim e hoje nem tu nem eu sabemos como nos proteger da nossa própria frieza. faz frio lá fora, meu amor! e aqueles barulhos que tu me protegias vão chegar... sei que vão. e os braços teus que afastavam meus pesadelos hoje não estão mais abertos. te escrevo porque sinto falta. e saudade é coisa pra ser escrita, meu amor, não dita. escrevo porque aonde não existes, existe saudade. e bem ali, aonde a saudade fica, vem a vontade. te escrevo porque tive vontade de dizer que sinto vontade tua. e todo desejo meu, tu sabes, é manha. e toda manha é prontamente atendida. mimos teus. correntes minhas. te escrevo porque amanhã é junho e quero contar o tempo pra me perder em ti. promessa escrita vale? pois se não valer, eu reconheço em cartório! prometo te seguir sempre, por qualquer canto. prometo escrever-te sem pedir resposta. mas respondendo, saibas tu, ficarei muito mais feliz! tás vendo? eu não aprendo mesmo, meu amor. que sejam meus caminhos tortos... te escrevo porque o que sinto é claro e bonito. guarde bem.
"Perdoe a minha precariedade e as minhas tentativas inábeis, desajeitadas, de segurar a maçã no escuro. Me queira bem. Estou te querendo muito bem neste minuto." [ caio fernando abreu ]
"Perdoe a minha precariedade e as minhas tentativas inábeis, desajeitadas, de segurar a maçã no escuro. Me queira bem. Estou te querendo muito bem neste minuto." [ caio fernando abreu ]
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