eu te amo

sábado, 9 de janeiro de 2010 às 22:43
- Alô?

"meu deus, como é difícil ficar longe de você, como é difícil suportar a sequência de dias sem sua voz mansa, sem sua risada convidativa, sem seus adjetivos próprios 'bom dia, meu anjo', só você me desejava bom dia, só você me achava um anjo, só você me ligava no meio da madrugada pra dizer alguma coisa sem sentido, algo sem importância, mas só pra dizer e o dizer, puro e simples, já era o suficiente pra me encher de júbilo, porque do outro lado tinha alguém que se importava, alguém que pensava em mim..."

- Alô? Alô?

"e o seu pensar não era gratuito porque exigia o meu pensar também, as ligações vinham sempre com questionamentos de onde estava, o que estava fazendo, se por acaso estava pensando em você, e eram cansativas, mas lá pro final ainda vinha algo de bonito 'tenho algo sério pra te dizer... eu te amo!', ah, como você me ludibriava e eu caía nos seus enganos enlevada de prazer, era um prazer que só você me dava e que só agora me dou conta de que não só faz falta, como dói, dói e aperta fundo no peito esse se jogar em braços que acolhem..."

- Quem é? Alô?

"embora nem sempre tenha me acolhido, mas eu esqueço porque sou boba, esqueço porque o teatro da lembrança é curto demais para as quimeras do irrealizável, e há muita coisa boa por aí que eu quero que você saiba que não esqueci, não esqueci e as desejo pra mim e pra você com um cinismo de quem não sabe se virar sozinha, e sinceridade não vale a pena pra quem nunca soube o que é certo e o que é errado, e você que sempre foi tão categórico fez as coisas virarem do avesso, nem sei mais quem eu sou..."

- Alô??? Alguém tá me ouvindo?

"mas o que eu sou não importa, nem o que eu me tornei por sua causa, e já digo de antemão que me desdobrei pra ser alguém próximo ao que você queria, mas nem cheguei perto, e nem iria chegar, porque você muda de opinião como quem apanha um livro novo numa estante, de toda forma, o que sou ou o que virei a ser não basta pra tanto amor, mas não vamos falar de amor, porque já não cabe mais aqui nenhuma grandeza desse tipo, nos tornamos ínfimos demais pra sentimentos tão pungentes, mas vou te dizer..."

- Tchau !


“Assim, separados, amar-nos-emos sempre. A ponte entre nós será a curva do céu, e assim o nosso amor será eterno. Possuir-te era já o caminho de perder-te. Viver contigo era a maneira de te ir esquecendo." [ Fernando Pessoa ]

2 comentários

  1. Mariana Says:

    O que destrói o amor também o alimenta. É a vida.


    Já li quase todos os textos! =)
    Beeijo

  2. Felipe Brito Says:

    Vida a dois é um grande mistério. Nunca saberei porque algumas dão certo e outras não. Não existe critério, é tudo muito estranho.

    E fantástica essa citação do Pessoa no fim. Muito me fez pensar...

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