- Te deixo!
- ...
- Te deixo! Te deixo! Ouviu bem? Te d-e-i-x-o!
- Como quem deixa alguém à beira da estrada?
- ...à beira do abismo! Assim que te deixo... à beira do abismo!
- Você se esqueceu de que...
- Te deixo, já disse! Te deixo hoje para amanhã não ter que te deixar mais! Te deixo hoje para esquecer que pra sempre foi você quem me deixou...
- Nunca pedi... Você sabe que nunca pedi para você...
- Então te deixo! Simples assim. Te deixo e digo mais: te deixo só.
- Como quem quebra as correntes dos braços alheios?
- ...como quem amarra uma bola de ferro nos pés do outro para que ele não a siga!
- Ou para que ele não fuja...
- Que fuja! Te deixo à sorte, ao relento, ao vazio do não-ter...
- Mas te tenho.
- Mas te deixo. Deixo junto as dúvidas. Todas elas. Deixo as lembranças. As melhores. Deixo as risadas. As mais sarcásticas.
- Para me fazer sofrer?
- Para te fazer ir.
- Seu medo é que eu volte.
- Meu medo é te deixar. E te deixo. E que não escrevas. Porque vou mudar tudo depois que você partir. Endereço, corte de cabelo, cor de batom, o perfume, o lençol da cama, o lugar do sofá. Deixo tudo... inclusive você.
- E se eu voltar?
- Não estarei te esperando.
- E se nunca voltar?
- É por isso que te deixo. Porque você nunca volta. Você nunca esteve aqui. Nunca.
“Resta... essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade de não querer ser príncipe senão do seu reino.” [ Vinicius de Moraes ]
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