Segura o choro, menina! Engole essas palavras, uma a uma, deixa passarem pela goela como espinhos e guarde-as como indigesta. Guarde-as bem fundo. Doem, sei que doem. Dói ainda mais por ser uma dor co-sentida. Não, menina. Não se parta ao meio. Que pedacinhos são esses que você está se dividindo? Que vermelho é esse nos olhos, que disforme é esse nas faces? Ô menina, que mundo é esse que você achou que vivia? Como pode acreditar nas palavras como verdades? Não existem mais coisas verdadeiras nesse mundo não, menina de Deus! E a mentira maior é a pretensão alheia de que acha que a sua mentira é a única verdadeira. Bobagem! A única verdade que resta, menina, ouça bem!, é que tudo mais virou mentira. Não chora! Pessoas são assim. Elas escondem. Elas não querem te ouvir, menina. Elas não querem te acolher, te proteger, te amar. Pessoas querem ser acolhidas, protegidas e amadas. Essa é a lei. Buscar aquilo que ninguém mais oferece. E se decepcionar sempre, eu digo menina, sempre, porque ninguém se doa de verdade. Não, não seja boba. Não acredite demais no real. A realidade de hoje é a grande mentira de amanhã. Pessoas mudam de opinião, de planos e de roupa. Essa é a lei, tá escutando? Presta atenção, menina! Não caia mais nos desenganos do amor. É perigoso, eu sei, a única mentira que sempre nos parece irrefutável é o amor. Mas é traiçoeiro, menina, traiçoeiro e volúvel. Hoje ele te ama, amanhã já... Não, não chore, menina. Olha pra frente. Hoje está noite e frio, mas amanhã... lembre-se, minha menina... amanhã é dia de sol. Entende? E não, não deite no meu colo. Hoje a dor é sua.
"Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis." [ caio fernando abreu ]
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deveras surpreendente esse pensamento..."ora ora, parece q temos uma cientista social escritora, afinal de contas"
->Muito bom