torre invertida

domingo, 7 de novembro de 2010 às 23:11
Isa quebrou o limite nunca dito. O limite que Gustavo estipulou e que ela aceitou sem se dar conta. Isa deu um passo fatal: ligou para Gustavo.

- Sinto sua falta.
- Tá tudo bem?
- Não. Tive um dia péssimo. Tô meio triste, meio só.
- Quer conversar?
- Quero carinho... Posso ir na sua casa?
- Amanhã eu tenho que acordar cedo, preparar umas provas, fazer uns slides.
- Entendo...
- Mas você pode falar. O que te aflinge?

Isa desligou. Não era isso que ela queria. Uma conversa informal pelo telefone sobre seu dia, seus problemas, seu mundo. Isa queria mais. Isa queria a proteção, queria o calor do abraço, o colo. Isa queria aquilo que Gustavo sempre deu sem pedir. Mas o pedido, assim tão explícito, tão eufórico fez parecer claro, o natural. Gustavo esquivou-se. Isa não insistiu, embora a vontade de dizer poucas e boas tenha subido à garganta. Queria dizer-lhe que tantas vezes ele a chamou para sua casa, para o prazer, para a conversa, para o filme e pizza fria. Tantas e tantas vezes, na chuva, ela dispôs-se a segui-lo. A amá-lo. E agora, Gustavo, sem dó, retirou sua sombra fresca. Isa não se irritou, tampouco se admirou. Isa conhecia bem a fugacidade dos trejeitos de Gustavo. E sabia ainda mais que ela não era mulher pra ele, e que ele não era homem suficiente pra ela, ainda que os dois se entendessem muito bem. E se gostavam. Divertiam-se do humor seco de cada um. Tinham lá suas afinidades. Usavam o mesmo xampu. Mas Gustavo era de fogo e Isa era de água.

- Isa, quer vir? Te faço um café gostoso, daqueles que você acorda pedindo...

- Vou me vestir. Me espera.

Isa quebrou o limite. Mas o limite ainda está lá. Intacto e agora não mais escondido, oculto. O limite está expresso. E Isa espera. Não sabe se o ultrapassa, não sabe se o esquece. Não sabe o que espera. Mas espera. Isa se expande, mesmo com todos os limites.

"Não quero saber do sofrimento, quero é felicidade. Não gosto de fazer lamúrias. Uma vez, discuti feio sobre determinada situação. Fiquei sozinho em casa, cheio de razão e triste pra cacete. Então, pra que querer ter sempre razão? Não quero ter razão, Quero é ser Feliz!" [ Ferreira Gullar ]

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