a menina mudava de rosto conforme a ocasião. preto, vinho, azul. não importa qual a cor da sombra nos olhos, o tom de sangue vivo nos lábios era sempre o mesmo. sua pele morena não realçava tanto a cor escandalosa, mas o batom deixava bem claro o que queria dizer através da boca: ela fere. e feria por aí muitos e muitos protótipos. não de propósito. não é sua essa maledicência vermelha. também não era tão ingênua a ponto de não saber o poço fundo que cavava. pois a menina não só mudava de caras, como mudava de cárater. dependia do vestido. do tamanho do pano. e da extensão da noite. e se divertia, a menina, com tantos personagens cada vez mais reais. para os outros, menos para ela própria. foi assim que ela, ao inventar e desinventar festas e lutos e encontros e motivos e tropeços, que se deixou levar. "não quero mais", bateu o pé. como criança e sua condição de livre encenação. e fechou as portas e largou as cores e os tecidos. juntou folhas e perfumes. e pronto... encerrado o ato! mas a vida continua, menina. ela nem percebe...
"(...) e eu lhe respondi que não fazia nada mais que estar vivo, porque tudo o mais não valia a pena." [ Gabriel García Marquez ]
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me vi nessa frase do gabo.
Adorei. Como adoro tudo, simplemente tudo, o que você escreve.
quando o livro estiver pronto, quero ser uma das primeiras a comprar...amei, sempre.