remember me

sábado, 20 de março de 2010 às 21:47
era choro esse nó na garganta? esse arder nos olhos? esse sangue correndo...? sozinha, na sua cidade, no seu quarto, na sua cama. sozinha enfim, ratifico, ela se deixou apavorar. sabia de antemão que o pavor viria. a solidão é velho medo, mesmo que velha companheira. mas fingindo-se forte, máscara do dia-a-dia, enfrentou o fatídico dia de volta ao seu mundo. doeu, confessa. e dói cada segundo mais. são agulhas nos dedos, no ventre, passando pelas veias. não achou metáfora mais apropriada, mas agulha caía bem. pequenas pontadas era o que sentia. e essa coisa presa na garganta? que não passa, que não extravasa, só incomoda. podia permitir-se chorar, gritar, rir, o que for, estava só. essa é a vantagem ilusória do estar só: o poder. pode-se tudo. procurou o telefone, procurou o computador, procurou aquele livro biográfico, e encontrou todos. e não quis nenhum. essa tem sido sua vida: uma busca incessante por aquilo que ela não sabe se quer. uma fuga atroz de tudo aquilo que ela não quer mais ser. lembrou-se dele com desgosto. sabia que iria lembrar... esquecer é uma virtude. e a saudade é uma doença. dessas que a gente nasce e morre sem se curar. não sabia o que doía mais, que agulha entrava mais fundo: o medo da solidão ou a saudade dele. sem dúvida, ambos estavam relacionados. e esse nó, meu deus, que não passa. como faz? resolveu chorar então... mal não faz. quem sabe até liberte. chorou um pouco. choro contido de menina que esconde. o nó, pois, continuava. as agulhas ainda doíam por toda parte, pequenas pontadas de angústia. procurou escrever. oscar wilde acreditava na libertação pelas palavras, o discurso como catarse. não, escrever não a absolveu. escrever é autrocrítica demais e ela já estava cheia das suas próprias acusações. pegou a mochila botou um casaco, sua carteira, uma caneta e um caderno e foi pra rodoviária. voltou pro lar materno. pro quarto familiar, pra casa cheia de gente, pro latido no quintal. voltou pro vento da lagoa, pra cama cheirosa, pra comida quente. o pavor passou, mas o nó? o nó continua. junto com as agulhas. amanhã, quem sabe, amanhã ela volta.



"Sofrer é pouco ao amor. As lágrimas nunca serão fartas como a saliva. A saliva é a lágrima da alegria." [ Fabrício Carpinejar ]

0 comentários

Postar um comentário

Devir | Powered by Blogger | Entries (RSS) | Comments (RSS) | Designed by MB Web Design | XML Coded By Cahayabiru.com Distribuído por Templates