No primeiro dia do ano, ela quebrou o espelho. Partiu-se ao meio. Descrente, recusou todos os presságios de azar que as pessoas a sua volta lhe ofereciam. Até que sofreu um acidente de carro, sem muitos ferimentos. Seu cachorro morreu. Sua avó se mudou. Sua melhor amiga se casou. Perdeu o emprego. Engordou 7 quilos. Sua gastrite piorou. Tudo que ela não queria imaginar aconteceu. Menos uma coisa: ele. Ele estava ali, ao seu lado. Amável e carinhoso. Com um prato de flores para em seu peito florir. Fazia planos e mostrava amor. Muito amor. Embora, da mesma maneira, nunca de muitas. Apegou-se a ele de forma peremptória. Era seu cais. Era o sinal mais claro que o azar do espelho partido não era uma verdade. Pelo menos não absoluta. Era a esperança de que as outras coisas voltassem, ou que coisas novas chegassem. Era o signo do desejo. Até que ele se foi. Virou-se as costas sem mais nem menos. Sem razão. Sem por quê. Disse estar de saco cheio de erros que, vistos a grandes olhos, também eram dele. Foi-se. E levou com ele todo o ceticismo da menina. Ela acreditou: sim, o espelho dá 7 anos de azar. E agora, dois meses depois, a menina pensa: "Ainda faltam 6 anos e 10 meses para ser feliz."
E a menina espera. Quem sabe ele volte... Daqui há 6 anos e 10 meses, quiçá. Ela esperará. Tão errada como nunca. Como sempre.
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